Produtores de café da Bahia não acreditam em queda de preço e alertam para agravamento de mudança climática

Apesar de estar entre os cinco estados com maior produção de café no Brasil, a Bahia não deve contribuir para uma redução no preço do produto. Mesmo sendo uma das principais mercadorias exportadas pelo estado, ao lado da soja, o café segue com valores elevados.

De acordo com o IBGE, a expectativa é que a colheita deste ano atinja 266 mil toneladas, representando um aumento de 6,8% em relação a 2024. No entanto, esse crescimento na produção não deve refletir em preços mais acessíveis para o consumidor baiano. O engenheiro agrônomo e sócio-fundador da Coopiatã, na Chapada Diamantina, Rodolfo Moreno, explica que, por ser uma commoditie negociada em bolsa de valores, o café mantém um comportamento de mercado que dificulta a queda nos preços. “Sempre há especulação. Quem tem café em estoque busca lucrar ao máximo”, afirmou em entrevista ao Bahia Notícias.

Moreno também se mostra cauteloso quanto ao cenário para este ano. “A florada foi boa em Piatã, mas ainda há incertezas. Fatores externos, como granizo em Minas Gerais ou problemas na produção do Vietnã, podem impactar o mercado”, ponderou.

Na última cotação, realizada na segunda-feira (24), a saca de 60 quilos do café arábica estava sendo comercializada a R$ 2,5 mil. Já o café da Chapada Diamantina, conhecido pela qualidade superior e colheita manual, pode atingir valores ainda mais altos, chegando a R$ 4 mil este ano. Segundo Moreno, a interferência do governo federal ao zerar o imposto de importação para o café não deve gerar efeitos significativos.

Outro produtor, Yuri Mares Barros, da JC Corretagem de Café, também prevê uma alta nos preços. Atuando na região do Planalto da Conquista, que engloba municípios como Vitória da Conquista, Barra do Choça, Ribeirão do Largo e Encruzilhada, ele destaca que a safra de 2024 alcançou cerca de 750 mil sacas. No entanto, devido à bienalidade da cultura – que alterna anos de maior e menor produtividade – a produção deste ano pode ser reduzida. Além disso, ele aponta que fatores climáticos influenciam diretamente os preços. “A valorização atípica do café está ligada ao impacto climático global”, explica.

Barros também questiona a abertura do Brasil para importação do café, afirmando que isso dificilmente afetará o mercado interno. “As grandes indústrias teriam que intervir para reduzir preços, mas o governo não tem esse controle. Pequenos produtores já investiram em colheita e adubação no ano passado, e o café armazenado tem um custo fixo. O aumento de preços veio da bolsa de valores, e quem tem café estocado vê isso como um ganho extra”, detalhou.

Impacto das Mudanças Climáticas

Assim como em outras partes do mundo, as mudanças climáticas têm afetado a produção de café, impactando a oferta e pressionando os preços para cima.

“Não podemos mais ignorar os efeitos do clima, porque as consequências já estão sendo sentidas. O regime de chuvas está se alterando, e as plantas percebem isso antes dos produtores. Algumas regiões terão que antecipar a colheita, que normalmente ocorre em junho, para abril”, observa Moreno. Barros reforça essa preocupação, afirmando que “o clima será o grande fator determinante para o futuro do mercado de café”.

Na Bahia, as principais regiões produtoras estão localizadas na Chapada Diamantina, Sudoeste, Extremo Oeste e Extremo Sul do estado.

Por Redação

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