Na última quarta-feira (14), iniciaram-se escavações arqueológicas no estacionamento da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, localizado no bairro de Nazaré, em Salvador. Essas escavações visam investigar a possível existência de um antigo cemitério que pode ser o maior da América Latina, destinado ao sepultamento de pessoas negras escravizadas, bem como de pobres, suicidas e outros indivíduos marginalizados pela sociedade soteropolitana dos séculos passados.
Descoberta Baseada em Mapas Históricos
A pesquisa é liderada pela arqueóloga Silvana Olivieri, doutoranda em Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela identificou, por meio da comparação de mapas históricos e imagens de satélite, a provável localização do cemitério sob a área atualmente ocupada pelo estacionamento da Pupileira, pertencente à Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
Estimativas de Sepultamentos
Estudos preliminares indicam que o cemitério pode ter sido utilizado para o sepultamento de aproximadamente 80 mil a 150 mil corpos. A expectativa da equipe de pesquisa é encontrar vestígios ósseos nos próximos dias, o que pode confirmar a magnitude do local como um espaço de sepultamento coletivo.
Histórico do Cemitério
O cemitério em questão teria sido estabelecido no século XVIII e funcionado até 1844. Durante esse período, serviu como local de sepultamento para escravizados, indigentes, suicidas e outros grupos marginalizados. Além disso, acredita-se que o local tenha sido utilizado para enterrar vítimas de revoltas como a Revolta dos Malês, que ocorreu em 1835.
Colaboração Institucional
As escavações estão sendo realizadas com o apoio do Ministério Público da Bahia (MPBA) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Uma reunião entre representantes da Santa Casa, MPBA e Iphan foi realizada para discutir a viabilidade da pesquisa arqueológica e formalizar um termo de cooperação para a realização das escavações.
Importância Cultural e Histórica
A descoberta e escavação desse cemitério têm grande relevância para o resgate da memória histórica de Salvador. Além de contribuir para a compreensão da história da escravidão no Brasil, as escavações podem fornecer evidências materiais que ajudem a reconstituir a trajetória de vida e morte de pessoas que foram invisibilizadas pela história oficial.
O trabalho arqueológico em andamento representa um passo significativo na valorização da memória negra e na luta contra o apagamento histórico das contribuições e sofrimentos dos povos africanos e afrodescendentes no Brasil.
Redação: JNEWSCAST